Muito conhecido nas obras, mas bastante negligenciado por muitos. O cobrimento é um dos principais elementos que visa a durabilidade das estruturas de concreto armado. Esse elemento consiste na menor distância entre a armadura e a face externa de uma peça estrutural. Devendo ser respeitado ao longo de todo o elemento considerado.
Mas por que usar o cobrimento?
O cobrimento é o principal mecanismo para impedir a ocorrência do fenômeno da corrosão de armadura (Leia nosso artigo completo sobre o tema!), que pode causar graves danos à estrutura de concreto armado.
Alguns agentes agressivos podem acelerar ou facilitar a ocorrência da corrosão, são eles a presença de cloretos e sulfatos (catalisadores das reações de corrosão), a carbonatação do concreto (reduz pH do concreto), a entrada da umidade, entre outros.
Através de um bom dimensionamento e uma boa execução do cobrimento, podemos minimizar ou evitar a entrada desses agentes no concreto.
Além disso, os primeiros 15 mm do concreto representam uma região frágil na qual praticamente não há agregado graúdo. Nela também há maior retração por secagem, devido ao maior teor de cimento, podendo gerar fissuração. Sendo assim, é indispensável que se tenha um concreto “saudável”, além dos 15 mm, antes de chegar na armadura!
Como dimensionar o cobrimento?
Com base na NBR 6118:2014, para determinar o cobrimento faz-se necessário definir, primeiramente, a classe de agressividade ambiental (CAA) à qual o concreto pertence. Essa agressividade está relacionada às ações físicas e químicas do meio ambiente que atuam sobre as estruturas de concreto.
A tabela a seguir a apresenta as possíveis classes de agressividade de acordo com as condições de exposição da estrutura e de suas partes. O responsável pelo projeto estrutural pode considerar classificação mais agressiva que a estabelecida na tabela, com base nos dados obtidos do ambiente da construção.
Em seguida, define-se o cobrimento nominal (cnom), que é o cobrimento mínimo acrescido da tolerância de execução (Δc). As dimensões das armaduras e os espaçadores devem respeitar esse cobrimento.
A tabela abaixo mostra a correspondência entre a classe de agressividade ambiental e o cobrimento nominal para Δc = 10 mm. Nas obras essa tolerância de execução deve ser maior ou igual a 10 mm.
Caso haja adequado controle de qualidade e rígidos limites de tolerância durante a execução, pode ser adotado o valor Δc = 5 mm. Esse controle rigoroso deve ser explicitado nos projetos.
Ainda assim, o cobrimento nominal de uma determinada barra deve sempre ser:
a) cnom ≥ φ barra;
b) cnom ≥ φ feixe = φn = φ√ n;
c) cnom ≥ 0,5 φ bainha.
Ademais, os cobrimentos nominais e mínimos terão sempre como referência a superfície da armadura externa, em geral a face externa do estribo. E a dimensão máxima característica do agregado graúdo utilizado no concreto não pode ser 20% maior que a espessura nominal do cobrimento (dmáx ≤ 1,2 cnom).
Vale ressaltar que o cobrimento das armaduras de elementos estruturais pré-fabricados deve seguir a NBR 9062:2017.
Execução do cobrimento
Dentro do canteiro, para garantir o cobrimento são utilizados os espaçadores. Esse pequeno objeto é preso à armadura quando esta é posicionada na forma para receber o concreto. Diversos espaçadores são utilizados nas obras: desde os industrializados (feitos em plástico) até aqueles feitos in loco com argamassa (as populares cocadas!)
Com os espaçadores devidamente posicionados, a forma já pode ser fechada e o concreto lançado!
Porém, outro aspecto importante relacionado ao cobrimento deve ser considerado: o processo de adensamento do concreto deve ser executado da maneira correta, a fim de que os espaçadores não se desloquem e prejudiquem o cobrimento da peça.
E qual é a maneira correta?
Ao utilizar o adensador, é importante evitar tocar o equipamento na forma e na armadura: ele deve entrar em contato apenas com a pasta!
Para ler mais!
- ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
- Canteiro de Engenharia – Carbonatação do Concreto
- Corrosão de Armaduras por MSc. Engª. Letícia Menezes