O controle tecnológico do concreto é uma etapa essencial para uma edificação segura e durável. Ela contempla a caracterização e separação dos materiais, os estudos de dosagem do concreto, o ajuste e comprovação do traço e, por fim, os ensaios para aceitação do concreto.
Hoje iremos falar sobre os principais ensaios para a aceitação do concreto: ensaio de consistência e ensaio de resistência à compressão.
Antes de abordarmos sobre os ensaios de aceitação do concreto, é interessante comentar sobre as responsabilidades do projetista estrutural e do executante da obra, segundo a NBR 12655/2015.
Profissional responsável pelo projeto estrutural
As responsabilidades referentes ao projetista estrutural devem ser explicitadas em todos os desenhos, memórias e contratos referentes à obra. Sendo elas:
a) registro da resistência característica à compressão do concreto, fck;
b) especificação de fcj (resistência média do concreto à compressão, para a idade de j dias) para as etapas construtivas, como retirada de cimbramento, aplicação de protensão ou manuseio de pré-moldados;
c) especificação dos requisitos correspondentes à durabilidade da estrutura e elementos pré-moldados, durante sua vida útil, inclusive da classe de agressividade adotada em projeto;
d) especificação dos requisitos correspondentes às propriedades especiais do concreto, durante a fase construtiva e vida útil da estrutura.
Profissional responsável pela execução da obra
Ao profissional responsável pela execução da obra de concreto cabem as seguintes responsabilidades:
a) escolha da modalidade de preparo do concreto;
b) escolha do tipo de concreto a ser empregado e sua consistência, dimensão máxima do agregado e demais propriedades, de acordo com o projeto e com as condições de aplicação;
c) atendimento a todos os requisitos de projeto, inclusive quanto à escolha dos materiais a serem empregados;
d) recebimento e aceitação do concreto;
e) cuidados requeridos pelo processo construtivo e pela retirada do escoramento, levando em consideração as peculiaridades dos materiais (em particular do cimento) e as condições de temperatura ambiente;
f) atendimento aos requisitos da ABNT NBR 9062 para a liberação da protensão, da desforma e da movimentação de elementos pré-moldados de concreto;
g) verificação do atendimento aos requisitos da ABNT NBR 12655 pelos respectivos profissionais envolvidos;
h) efetuar a rastreabilidade do concreto lançado na estrutura.
Aceitação do concreto
Como visto, a aceitação cabe ao engenheiro responsável pela obra, com base no que foi previsto através do projeto estrutural.
Esta etapa é dividida em duas: aceitação provisória do concreto fresco e aceitação definitiva do concreto.
Na aceitação do concreto fresco utiliza-se o ensaio de consistência. Já na aceitação definitiva é feito o ensaio de resistência à compressão, realizado através da ruptura de corpo de prova.
Ensaio de Consistência
Esse ensaio é utilizado para verificar a trabalhabilidade, ou consistência, do concreto fresco e, consequentemente, confirmar se a consistência do material está adequada para seu uso final.
Isso porque cada tipo de obra requer um concreto com características diferentes – às vezes, mais seco (com menor trabalhabilidade), outras vezes, mais fluido (com maior trabalhabilidade). A trabalhabilidade pode ser alterada pela quantidade de água na mistura ou com o uso de aditivos.
O ensaio de consistência é realizado principalmente através do abatimento do tronco de cone (Slump Test) – ABNT NBR NM 67/1998. No entanto, para concretos autoadensáveis existem os ensaios de espalhamento (ABNT NBR 15823-2) e habilidade passante em fluxo livre (ABNT NBR 15823-3).
Para o concreto preparado pelo construtor da obra, devem ser realizados ensaios de consistência sempre que ocorrerem alterações na umidade dos agregados e nas seguintes situações:
a) na primeira amassada do dia;
b) ao reiniciar o preparo após uma interrupção da jornada de concretagem de pelo menos 2 h;
c) na troca dos operadores;
d) cada vez que forem moldados corpos de prova.
Para o concreto preparado por empresa de serviços de concretagem, devem ser realizados ensaios de consistência a cada betonada.
O Slump Test é aplicável aos concretos plásticos e coesivos que apresentem um assentamento igual ou superior a 10 mm, como resultado desse ensaio. O método não se aplica a concreto cujo agregado graúdo apresenta dimensão nominal máxima superior a 37,5 mm.
A aparelhagem do ensaio compreende o molde, a haste de compactação e a placa de base.
- O molde deve ter a forma de um tronco de cone oco, com diâmetro da base inferior de 200 mm ± 2 mm, diâmetro da base superior de 100 mm ± 2 mm e altura de 300 mm ± 2 mm.
- A haste de compactação tem seção circular, reta, feita de aço ou outro material adequado, com diâmetro de 16 mm, comprimento de 600 mm e extremidades arredondadas.
- Deve ser metálica, plana, quadrada ou retangular, com lados de dimensão não inferior a 500 mm e espessura igual ou superior a 3 mm.
O passo a passo do teste consiste, inicialmente, em umedecer o molde e a placa de base. Após isso, coloca-se o molde sobre a placa metálica em superfície nivelada e o operador posiciona-se com os pés sobre as abas da parte inferior desse molde, a fim de prendê-lo e evitar qualquer tipo de interferência.
Em seguida, o cone é completamente preenchido em três camadas de concreto aproximadamente iguais. Coloca-se a primeira camada de concreto e aplica-se 25 golpes com a haste metálica; depois preenche-se com uma segunda camada e aplica-se, novamente 25 golpes, com o cuidado de não penetrar a camada anterior. Repete-se esse processo para uma terceira camada.
Retira-se, então, o excesso de concreto com um desempenadeira, deixando a superfície nivelada com o topo da forma. Posteriormente, com cuidado, é retirada a forma na direção vertical, em tempo de 5 a 10s, e colocada ao lado da massa de concreto desformada.
Por fim, mede-se o abatimento do concreto. Para isso, apoia-se a haste metálica horizontalmente no topo do molde e mede-se com a trena a distância entre a superfície do cone de concreto com o topo do molde. Este valor será o resultado do ensaio de abatimento. Todo o procedimento deve ser realizado sem interrupções e deverá se completar num intervalo máximo de 150 s.
Ensaio de Resistência à Compressão
Para a execução do ensaio de resistência à compressão é necessária a retirada de uma amostra. A coleta de amostras deve ser realizada durante a operação de descarga, após a retirada dos primeiros 15% de concreto e antes de completar a descarga total da betonada, em dois ou mais períodos regularmente espaçados.
Com a amostra retirada é realizada a moldagem dos corpos de provas, em moldes metálicos com formato cilíndrico. O processo de moldagem segue as orientações da norma NBR 5738:2015; na qual, de acordo com as dimensões do molde utilizado, emprega-se a divisão do corpo de prova em camadas e realiza-se o adensamento manual ou mecânico, conforme as tabelas abaixo.
Em seguida, com os corpos de prova moldados, estes são mantidos em processo de cura úmida ou saturada até a idade de ensaio, a qual é definida pelo projetista estrutural.
Chegada a idade especificada, realiza-se o rompimento do corpo de prova à compressão com taxas de aplicação de carga que podem variar de 0,3 MPa/s a 0,8 MPa/s.
Para a aceitação definitiva do concreto os valores obtidos nos ensaios de ruptura devem ser iguais ou superiores aos valores especificados no projeto estrutural.
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Para ler mais!
- NBR 12655:2015;
- NBR 15823-2:2010;
- NBR 5739:1994;
- NBR 5738:2015;
- NBR NM 67:1998;
- NBR NM 33:1998.